Entrevista da presidente da FCJOL, Patrícia Cordeiro ao Jornal Mania de Saúde

 Foto: Antônio Cruz

Sendo alvo de críticas desde que ocupou o cargo, a presidente da FCJOL recebeu a nossa equipe de reportagem para uma entrevista exclusiva em um dos camarins do Teatro Trianon. Confira abaixo as respostas de Patrícia Cordeiro para vários questionamentos levantados ao longo de sua gestão.

Mania de Saúde – Durante todo o verão, repercutiu na imprensa local um debate acalorado sobre os valores das contratações dos shows e eventos realizados no Farol de São Tomé, com pessoas afirmando que os valores estariam altos. Qual a sua avaliação?
Patrícia Cordeiro – Eu digo que tudo que efeito com o dinheiro público tem que ter um viésde investimento. Showbusiness no Brasil é caro, a gente também acha. Mas existe uma política de  entretenimento que tem que ser feita de forma responsável. Caro, no sentido que as pessoas falam e nas suspeitas que alguns tentam levantar (e são absolutamente falsas), seria se esse valor tivesse superfaturado, fora do valor de mercado, se esse investimento não trouxesse retorno, se o custo benefício não valesse a pena. E o que a gente vê não é isso. Todos os shows foram contratados dentro do maior rigor da lei, da observação do mercado, do valor comprovado pelo artista com todas as exigências que o Tribunal de Contas faz. Ele exige uma série de documentos que comprovem o valor daquele artista. A Prefeitura de Campos não usa a figura do intermediário, faz toda a transação direto com o artista. E o que vemos com relação a outros eventos em outros municípios é que, aqui, os valores pagos são sempre menores. A gente não está dizendo com isso que em outro lugar exista alguma coisa errada. Estou dizendo que consigo realizar bons negócios. Isso eu não tenho dúvida. A prova de que esse investimento tem um retorno positivo é que, no mês de janeiro, o setor hoteleiro do Farol teve um faturamento de oito milhões de reais. Cada processo se for analisado detalhadamente, é feito dentro do rigor da lei, com preço de mercado e isso é parte de uma política de entretenimento que trabalha em analogia como fomento do turismo e com o desenvolvimento econômico. O verão do Farol não é um projeto da FCJOL. É um projeto de governo, sendo que os eventos expressivos são gerenciados pela fundação. As críticas que eu tenho ouvido e lido, na maior parte, são bem levianas, bem superficiais.

Mania de Saúde – No final de 2013, coma exoneração do Superintendente do Teatro Trianon, João Vicente Alvarenga, você acabou acumulando essa função com a presidência da FCJOL. Isso será definitivo ou provisório?
Patrícia Cordeiro – O governo não sinalizou nada a respeito ainda e, como isso aconteceu nesse período em que o teatro tem o recesso de verão, estamos no aguardo. Existe uma equipe grande comigo. Grande em valor não tanto na quantidade, mas de qualidade enorme, junto ao professor Orávio, ao Jorge Luís, que está gerindo o processo. Por enquanto, não temos nenhum posicionamento do governo sobre a questão. Mas nunca esteve tudo centrado em minhas mãos. A prefeita tem essa característica, de fazer as coisas de uma forma participativa, e o plano de governo de cultura foi elaborado com a participação da equipe que está aí, o professor Orávio, o jornalista Jorge Luís e outras pessoas que compõe a equipe. Uma coisa que é muito respeitada nesse grupo é a vocação de cada um. Eu gosto de gestão, da parte administrativa, gerencial e conheço o plano de governo da prefeita. Mas jamais conseguiria fazer alguma coisa sozinha. Jamais conseguiria que o Curso Livre de Teatro tivesse o sucesso que tem se não fosse a figura da Maria Helena Gomes, que é a vice-presidente da FCJOL e diretora do curso. As ações da Superintendência de Igualdade Racial jamais teriam o sucesso que têm se não fosse o envolvimento do Jorge Luís, que está lá desde o começo, assim como a Superintendência de Preservação do Patrimônio depende absolutamente do empenho, da paixão e do amor que o Orávio imprime ali. O Arquivo Público, da dedicação e da experiência de Carlos Freitas. A literatura não estaria fazendo um trabalho tão brilhante se não fosse o auxílio do professor Alcir Alves.

Mania de Saúde – Desde o início, a sua gestão é alvo de críticas. Como você lida com elas?
Patrícia Cordeiro – Não é difícil. Sou agente pública de um grupo político expressivo, que tem na liderança um dos políticos mais influentes do Brasil. Não achei que seria diferente. Críticas à gestão é natural, até porque muita gente que critica já foi gestor e, de certa forma, deve ter gerido de uma maneira muito diferente de mim. Então, isso ocasiona críticas mesmo. A forma melhor de lidar, principalmente com as opiniões mais levianas, e tem coisas que chegam a ser cômicas, é justamente não lendo ou não dando importância. É inevitável que alguma coisa a gente fique sabendo, então, eu passo o olho. Às vezes, olho e penso: “Será que alguém vai levar isso a sério?”. Não tem antídoto melhor do que o volume de trabalho que eu tenho. Não dá para me aborrecer.

Mania de Saúde – Um dos questionamentos que têm sido levantados é com relação às contratações, por parte da FCJOL, de bandas em que seu esposo Lucas Cebola é músico. É legal, mas é ético? Como responde a esses questionamentos?
Patrícia Cordeiro – Eu fico muito feliz com essa pergunta. Você é primeira pessoa que dá a oportunidade de responder a isso. Tenho 19 anos de casada. Conheci meu marido justamente porque ele era músico e eu trabalhava com produção musical. O conheci como o melhor músico do instrumento que ele representa, que é a percussão. Naquele momento, eu precisava de um percussionista para efetuar um trabalho e ele foi indicado como o melhor. E, ao longo desses anos, tenho que concordar, ele é um excelente músico. Não me lembro de nenhum momento nesses 19 anos de casados em que nossa renda não tenha sido de música. Meu marido sempre viveu de música. Temos uma filha de 17 anos e outra de 6 que nunca tiveram uma mensalidade de escola paga que não fosse oriunda do trabalho dele com a música. Então, virei gestora de uma fundação cultural. E o que o cara faz com a profissão dele? Ele deixa de ser músico porque a oposição passou a respeitar todos os músicos de Campos menos ele? Acho isso improvável. Se é legal, é moral, ou não é, a gente chega num consenso. Ele começou a achar que ia ser difícil. E, paralelo a isso, quem conhece a história do Lucas, que só de registro profissional tem 28 anos, sabe que ele participou de uma banda que tem uma trajetória muito emblemática. Ele perdeu um irmão nesse trabalho, o Pedrinho, que era multi-instrumentista e faleceu no auge do trabalho. Chega uma hora em que as crianças vão crescendo, os cabelos vão ganhando fios brancos e ele chegou e disse que não tinha mais esse desejo todo em continuar com esse trabalho. E ele sempre tocou com outros músicos. É impossível para um músico que vive disso recusar um convite para um trabalho como gravar um CD, porque a esposa dele agora é presidente  da Fundação Cultural. Ele vive disso. Ganha cachê por isso, como qualquer músico. Minha filha um dia me mostrou uma foto no celular e disse: “Mãe, meu pai estava dormindo  e eu fui lá e tirei uma foto das mãos dele. Como que o único músico que não merece respeito na cidade é o meu pai? A vida inteira eu vi as mãos do meu pai sangrarem para eu estudar”. Isso é louco. Acho que, se o chamarem para tocar, e ele achar que é um bom projeto, tem que fazer. Fico feliz com essa pergunta e na esperança de essas denúncias serem investigadas. Acho até que o Ministério Público uma vez se pronunciou, pediu um relatório das ações e concluiu que é uma falácia, além de ser um desrespeito com o músico.

Mania de Saúde – Para finalizar, quais são os planos da FCJOL para 2014?
Patrícia Cordeiro – Temos, neste mês, o aniversário da cidade. E, na sequência, o carnaval fora de época. Paralelo a isso tudo, a gente já está trabalhando na 8ª Bienal, homenageando José Cândido de Carvalho, que será do dia 16 de maio ao dia 25 de maio. As reuniões estão bem adiantadas. O plano de trabalho da nossa Orquestra Sinfônica Municipal e do nosso Coro Municipal está maior do que o do ano passado, com a possibilidade da orquestra realizar outra turnê internacional, pois existe  convite para isso. A Companhia de Dança aumentou o plano de trabalho e contemplou o convênio com a parte de figurino, de coreógrafo, que até o último convênio não tinha. O Curso Livre de Teatro será absolutamente incentivado. Da última turma que se formou, oito alunos passaram no vestibular de Artes Cênicas da UNIRIO, o que nos deixou muito feliz. Tem toda a programação do Museu que já está pronta até julho. O Arquivo Público Municipal está em processo de recuperação de documentos e incentivo à pesquisa. As casas de cultura estão funcionando a pleno vapor e com uma participação efetiva da comunidade. E mais um monte de coisas que estaremos divulgando ao longo do ano.

Texto produzido em: 19/02/2014

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